segunda-feira, 3 de março de 2008

Educação canina

Antropomorfismo, do dicionário Aurélio de língua portuguesa, significa a aplicação de algum domínio da realidade social, biológica ou física da linguagem ou conceitos próprios do homem inclusive de seu comportamento e o cinemorfismo é exatamente o inverso ou seja, a aplicação de domínio da realidade social, biológica ou física de linguagem ou conceitos próprios de cão ou de seu comportamento.Por exemplo: quando um cão com um osso na boca ameaça um observador humano, na verdade imagina que essa pessoa deseja seu osso enlameado e pegajoso, fazendo assim faz uso de valores caninos, ou cinemorfismo. Os cães são animais sociais cuja sociedade é regida por uma série de comportamentos a base instintiva e o homem é um animal humanizado, social e sua sociedade é regida por leis morais.
Porém, o problema é que no decorrer de um ano, o cão se desenvolve nas mesmas proporções que um humano se desenvolve em vinte anos, portanto a evolução é vinte vezes mais rápida, tanto no crescimento corpóreo quanto de comportamento e, portanto, o erro na criação de um filhote, por menor que seja, é vinte vezes mais grave do que o erro nos humanos.
As crianças conversam por movimentos, posturas e palavras, enquanto que os cães não tem uma linguagem verbal. O homem tem deixado de lado muito deste tipo de sentido do animal em troca do desenvolvimento da aprendizagem por palavras, mas continua esperando que o companheiro cão entenda palavras e situações, inclusive as punições, tão facilmente como fazem as crianças.
O cão fala através do corpo e de vocalizações como latir, gemer, chorar, etc., que muitas vezes não são compreendidas por nós, para expressar seus desejos ou insafisfações, sua dominância ou sua submissão.
Se você o deixar sozinho, ele pode urinar em seu tapete por reprovação (dominância) e se você se zangar, talvez ele urine nele, tremendo e com o rabo entre as pernas por medo (submissão). Uma mesma ação assume significados totalmente diferentes. Será que entenderíamos isto?
Para o cão, as eliminações corporais são uma manifestação do mais alto nível, elas o informam sobre sexo, idade, hora e o momento do indivíduo que passou.
Os maus tratos num filhote se repercutem em sua personalidade e em seu comportamento pelo resto da sua vida, exatamente como em uma criança, assim como isolamento e a falta de socialização. Isto conduz a problemas de comportamento sérios e que, infelizmente, são muito freqüentes.
Entretanto o antropomorfismo e seu erro mais freqüente é a associação de atitudes animais com posturas humanas. O cão que olha de lado abaixando a cabeça para evitar de olhar no rosto de seu dono dá a impressão de provar remorso por uma ação na qual ele se sinta culpado.
Se o proprietário vê em seguida as flores do jardim reviradas ou os livros rasgados, irá logo ligar os fatos: meu cachorro agiu mal e sabe disto. Porém não é bem assim, um cão que não é punido dentro dos dez segundos que seguem um ato repreensível, perde a consciência ou a memória de que acaba de fazer algo errado, pois já estará completamente ocupado com uma nova atividade.
Seu comportamento é na verdade uma manifestação de submissão por antecipação. Ele espera a punição que irá receber porque você voltou e não porque as flores estão espalhadas pelo jardim ou os livros estragados. Ele associa a punição com a seu regresso e não com a ação que ele cometeu impunemente.
Nos filhotes, assim como nas crianças, a consciência e o sentido do dever não são naturais. Os pais são essencialmente responsáveis pelo sentido moral e educação de suas crianças, que neste caso, se realiza principalmente por imitação. No cão isto também pode acontecer, mas ele agirá desta forma na medida em que isso o divertir ou for proveitoso.
A educação do cão progredirá na medida em que seus instintos forem equilibrados com as leis morais da sociedade e isto é feito por nós.
Um cão não quer ser tratado como um humano, porém o mesmo cão espera que nós sejamos como ele, que participemos de atividades em grupo, que brinquemos, que cacemos juntos e que durmamos no mesmo lugar que ele.


JOHN HOLMES

Pastor Alemão Suiço

Pastor Branco Suíço, Pastor Alemão Branco, Pastor Branco, e até mesmo Pastor Canadense são apenas nomenclaturas diferentes para distinguir o mesmo cão. E não há como traçar a história desse belíssimo animal sem falar também do Pastor Alemão, uma vez que ambos estão entrelaçados em suas origens.

Desde o final do Século XIX, o Pastor Alemão é uma das raças mais populares de todo o mundo e é indiscutível a sua presteza na guarda, em resgates, como guia de deficientes, como companhia, na prática de esportes, entre outras atividades tão bem desempenhadas pela raça. O que muitos desconhecem é que o Pastor Alemão, além de versátil, pode apresentar uma grande variedade de cores como o amarelo, o preto, o cinza e entre estas, também o branco.E embora muito seja questionado sobre a cor branca o que a história mostra é que de fato é uma das cores originais da raça.

Em toda Europa, e especialmente na Alemanha o pastoreio era muito comum fazendo parte da vida de muitas famílias. Os fazendeiros faziam uso de cães para guiar seu rebanho durante o dia e para protegê-lo de predadores indesejáveis por toda a noite. Por muitos anos os alemães utilizaram uma enorme variedade de cães para esse trabalho e a partir de uma seleção preliminar esses cães foram classificados como cães pastores e considerados a partir de seu tamanho, cor ou estrutura.
O Capitão Max Von Stephanitz foi o grande responsável pelo desenvolvimento do Pastor Alemão. Quando ainda um jovem oficial da cavalaria, ele viajava por toda Alemanha e por muitas vezes se hospedava em fazendas de pastoreio onde ficava fascinado com a capacidade de trabalho dos cães pastores. Entretanto ele notou que o que se exaltava em um cão, faltava no outro e vice-versa, passando então a vislumbrar a possibilidade de criar uma raça de trabalho que pudesse juntar as qualidades de todos os cães pastores. Winifred Strickland cita em seu livro “The German Shepherd Today” que Max Von Stephanitz idealizou um cão de extrema inteligência, rápido, protetor, de aparência nobre, de temperamento confiável, que pudesse trabalhar incansavelmente por todo o dia, fosse extremamente leal, com um desejo incondicional de agradar e que também fosse a companhia ideal para o homem.

Durante toda a última década do século XIX ele experimentou cruzamentos entre os melhores cães pastores da Alemanha para chegar ao cão de trabalho ideal. Entre eles, um dos mais utilizados por Max foi Grief, um pastor completamente branco nascido no ano de 1879 que foi apresentado na exposição de Hanoover nos anos de 1882 e 1889. De acordo com Joseph Schwabacher em seu livro “The Popular Alsacia” (1922), Grief gerou a fêmea de nome Lene que por sua vez acasalou com o cão pastor Kastor e desse cruzamento nascera Hektor, um cão pastor amarelo e cinza. Em 1899, Max compareceu ao “The Karlsruhe Exhibition”, um evento voltado para Cinofilia, e levou consigo Hektor que rebatizara de Horand Von Grafath, neto de Grief, e considerado por Max o exemplar ideal.

Em 22 de abril de 1899, o “Verein für Deustche Shäferhunde” ou Clube do Pastor Alemão (a SV), maior clube especializado em uma raça no mundo, foi fundado por Max Von Stephanitz. Horan tornou-se o primeiro Pastor Alemão a ser registrado em seu Livro Oficial e por ser descendente de um cão branco, e assim carregar o gene da pelagem branca, produziu diversos filhos, netos, bisnetos e tataranetos brancos.

Com o desenvolvimento da SV, Max continuou a aperfeiçoar a raça. Ele criou a “Koerung”, uma espécie de inspeção em que todo exemplar deveria passar para saber se poderia ou não procriar. Durante esse período o Pastor Branco tinha o mesmo status do Pastor Alemão. Max deixava bem claro que o Pastor Alemão, independente de sua cor, era um cão de trabalho em primeiro lugar.

Em 1930 o nazismo começou a se espalhar rapidamente pela Alemanha e suas questões racistas deram uma visão distorcida da função do Pastor Alemão. Max passou a ser pressionado e ameaçado pelos próprios membros da SV que aderiram à política totalitária de Hitler e interferiram em suas ações. Após 36 anos de dedicação à raça, Max entregou o seu posto ao novo governo. Ele morreu um ano após, coincidentemente na data de aniversário de 37 anos do “Verein fur Deusche Shaferhund - SV” em 22 de abril de 1936. Os nazistas, viram a pelagem branca como uma característica indesejável na raça e, sem embasamento científico algum, presumiram que esta empalidecia a cor escura dos Pastores Alemães e ainda seria a causadora de doenças. A partir daquele momento o PB foi banido de forma cruel e perversa, nunca mais tendo sido aceita pelo padrão do SV.

No final dos anos cinqüenta os EUA através do American Kennel Club e o Canadá através do Canadian Kennel Club, seguindo os novos parâmetros da SV, passaram a desclassificar a cor branca dos PA para exposições de padrão e beleza, porém continuaram a registrá-la como Pastor Alemão Branco.

Mesmo ocorrendo anualmente milhares de registros da raça nesses países, muitos criadores de Pastor Alemão se recusam a criar a cor branca. Por esse motivo clubes especializados no Canadá lutam pela separação das raças buscando o seu devido reconhecimento. Eles se baseiam em estudos feitos em todo mundo, cujos resultados indicam que há carga genética suficiente para sustentar esta separação.

Em 2002 a FCI (Federação Cinológica Internacional), maior entidade cinófila do mundo, com mais de 80 países filiados, incluindo o Brasil, reconheceu a raça como Pastor Branco Suíço. Graças ao trabalho conjunto de criadores e de clubes especializados Suíços, que tiveram seus primeiros cães importados dos EUA e Canadá no começo da década de 70, a raça tornou-se independente e com uma padrão próprio. Essa conquista foi muito importante para o seu desenvolvimento fazendo com que pudesse participar de exposições de padrão e beleza, o que representou o primeiro passo para o fim do preconceito e o início da aceitação mundial dessa raça secular.

A história vem nos provar que o Pastor Branco Suíço foi importantíssimo para os alicerces da raça Pastor Alemão, apesar da existência de falsas teorias que são tidas como fatos persistirem em afirmar o preconceito pela cor. Hoje está cientificamente provado que o gene que trás a cor branca não causa nenhum defeito, doença, moléstia ou mesmo o tão comentado albinismo cujas principais características são a pele rosada e falta de pigmentação de focinho. Muito pelo contrário, como todo cão de pelagem naturalmente branca, o Pastor Branco Suíço possui a pele escura, pigmentação de focinho e plantares de cor fechada preta e olhos do castanho escuro ao quase preto.

Atualmente, Pastores Brancos Suíços são encontrados exercitando diversas atividades como guarda, guia de deficientes visuais e físicos, como cães de polícia e resgate, atuando no combate ao tráfico de drogas, segurança de aeroportos, como companhia, em competições esportivas, entre outros. Isto é, nas mesmas funções de seus primos Pastores Alemães.